
Bem, mas para a minha surpresa, o filho de Impression e Audacity (Clackson), criado no bonito e eficiente Haras Santarém no Paraná, não só continua falando português como se tornou um poliglota.
“Minhas viagens pelo mundo do turfe fizeram com que eu tivesse contato com outras línguas e nacionalidades. Arranho bem no árabe, falo perfeitamente o francês, mas é com o inglês que nos comunicamos na raia, pelo menos foi assim em Cingapura”, explica o castanho de 5 anos de idade.
No último dia 17 de maio, domingo, enquanto no Brasil teríamos uma tarde festiva no Hipódromo de Cidade Jardim com a realização de mais um Grande Prêmio São Paulo (G1-2400mG), logo cedo, no horário de Brasília, Glória de Campeão entrava para a história do turfe nacional e mundial ao ser o primeiro brasileiro a vencer a importante e milionária Singapore Airlines International Cup (G1-2000mG).
“Foi um momento mágico da minha campanha. Havia feito uma excelente apresentação na Dubai World Cup (G1-2000mA), mesmo atuando na areia, cheguei na 2ª posição. Já em Cingapura, pisei na grama, então facilitou ainda mais meu rendimento, isso sem falar que ser conduzido por jóqueis brasileiros é muito melhor”, aprova o cavalo, que tanto em Dubai, quanto em Cingapura, contou com direção de brasileiros, no primeiro caso Jorge Leme, e no outro com Tiago Josué Pereira.
Quis saber do mesmo se tem muita diferença em ser conduzido por brasileiros e profissionais de outros países.
“Tem e muita diferença! Os jóqueis franceses meio que nos deixam muito soltos, confiam só no nosso desempenho, deixando toda a responsabilidade para nós corredores. Já os brasileiros não. Atuam em parceria com o cavalo. Nos incentiva a correr, tenta nos entender e nos exige no momento certo, fora que o carinho é diferente também. Nós, brasileiros, somos mais emotivos, os outros, principalmente do velho mundo, são mais frios”, compara.
Para não perder o ritmo da conversa, até pelo alto custo da ligação (lembrar de mandar a conta para o Stud Estrela Energia ou arrumar logo um patrocinador para o CERCA MÓVEL), pedi para Glória de Campeão me falar da corrida em si.
“A confiança que eu tinha e sentia também no TJ foram fundamentais para a nossa vitória. O sulafricando Jay Peg, que havia vencido a corrida no ano anterior, saiu na frente feito um louco. Não permiti que o mesmo livrasse vantagem e fui para cima dele, ocupando a 2ª posição, em um ritmo de corrida assustador.
Percebi quando o mesmo começou a colocar a língua para fora, por estar cansado, e pretendia ficar mais um tempo atrás do mesmo, para força-lo ainda mais. Sendo que TJ fez questão que eu assumisse a dianteira assim que entramos na reta final. Faltando 600 metros para o espelho, dominei Jay Peg e abri vantagem providencial.
Em plena reta, percebi pelos gritos do público presente ao Kranji Racecourse que teria alguma surpresa, foi quando ouvi o britânico Presvis me provocar. ‘Ô brasileiro, acabou seu momento de glória. Sai logo da frente que vou para o meu momento mágico!’. Fiquei extremamente chateado com as palavras dele e te garanto, por mais que estivesse diminuindo o ritmo, ele jamais me passaria.
Coloquei todas as minhas honras e glória nas minhas patas e mantive cabeça ao cruzar o disco na frente, garantindo mais uma vitória na minha campanha internacional, uma recheada bolsa de US$ 2 milhões e cravando meu nome na pista de Kranji ao me tornar recordista da mesma, ao marcar 1’59”20 para os dois quilômetros”, resume.
Aproveitei para saber do mesmo o que pensou ao obter a vitória.
“Num primeiro momento, estava feliz por não ter deixado o inglês metido do Presvis me ultrapassar, mas depois o mesmo pediu desculpas e a minha ficha caiu. Eu estava sendo aplaudido pelo mundo do turfe e tinha dado a maior alegria da vida profissional de Tiago Josué Pereira. O carinho com que o jóquei me beijou após o páreo e as palavras de afeto do mesmo ficarão sempre guardados na minha lembrança”, emociona-se.
Para encerrar, perguntei a Glória de Campeão se o mesmo ficou chateado por não ter Stefan Friborg e Dalva de Oliveira, titulares do Stud Estrela Energia, na foto da vitória em Cingapura.
“De forma alguma, meus ‘pais’ têm diversos filhos e estão comigo sempre que podem. Quem precisava de apoio na tarde de domingo era Hot Six, que perdeu nos detalhes o GP São Paulo (G1-2400mG). Não vejo a hora de te-lo aqui na França, ao meu lado, para conversarmos sobre as corridas dele no Brasil e eu passar as minhas experiências para ele.
O mais importante para mim é saber que meus ‘pais’, Stefan e Dalva, me tornaram o ‘bonitão’ do Estrela Energia. Isso não tem preço!”, encerra satisfeito o castanho, que se tudo correr bem, em 2010 tentará mais uma vez a vitória na Dubai World Cup (G1-2000mA) antes de encerrar a campanha.