Dia 1º de julho iniciou a temporada 2008/2009 do nosso turfe brasileiro, e as corridas começaram no Rio Grande do Sul, no Hipódromo do Cristal, no último dia 3. No sábado passado, os Hipódromos da Gávea e de Cidade Jardim deram a largada para mais um ano hípico. Atendendo ao pedido de um grande amigo gaúcho, que sentiu saudades de cavalos de páreos de turma na coluna e não só dos clássicos, e pegando carona com a abertura do programa carioca, não tenho como negar que essa temporada tem tudo para levantar a moral dos gaúchos.
Que me perdoem Time For Fun e o recordista Quick Road, ambos vencedores das preparatórias carioca e paulista, respectivamente, para o próximo Grande Prêmio Brasil (G1-2400mG), dia 3 de agosto no Rio de Janeiro, mas o entrevistado da primeira coluna da temporada 2008/2009 do CERCA MÓVEL é um tordilho chamado Orelhão.
Não sei se o titular do Haras Ponta Porã também tem o dom de ouvir os cavalos como eu, mas acertaram em cheio ao escolher o nome do filho de Punk e Lucky Mel (Combé), que defende as cores do Sr. Raul Corrêa. O cavalo adora contar e, principalmente, ouvir boas histórias.
“Comecei a campanha no Hipódromo do Cristal e aprendi a gostar do jeito gaúcho de ser. Final do dia, tomar um chimarrão, comendo uma boa carne e contando muitos casos é a melhor coisa do mundo. Eu ficava na cocheira de ‘orelha’ em pé, só ouvindo e relinchando das conversas. Era cada coisa que saía das rodas de turfistas”, começou a falar Orelhão ao me receber na cocheira, no Hipódromo da Gávea.
Pedi para o mesmo falar da sua transferência do Rio Grande do Sul para o Rio de Janeiro.
“Vivi tempos inesquecíveis no Hipódromo do Cristal. Atuei sete vezes e consegui quatro vitórias, todas elas na raia de grama. Ainda cheguei a formar a dupla no GP Governadora Yeda Crusius (1609mA), um handicap que contou com a participação de sete competidores, no final do mês de março. Foi graças àquela exibição que vim seguir campanha no Hipódromo da Gávea.”
Sobre o clima, Orelhão não fez muitas críticas. “No começo, achei bem quente. A conversa de Rio 40º é a mais pura verdade (relinchou). Mas agora que chegou o inverno, me sinto bem mais a vontade.”
Na temporada anterior, o cavalo correu três vezes, todas na grama, e obteve duas colocações, conduzido pelos jóqueis R. Rosário (em maio e em junho) e E. Costa (no começo de junho).
“Os dois garotos fizeram um bom trabalho, mas a corrida não saiu como gostaríamos, por isso não posso culpá-los. Sendo que no último sábado, tudo foi diferente. Quem no Rio Grande do Sul não conhece o Carlos Alex Vigil? O cara foi líder da estatística do Cristal durante nove anos. Era o nosso ‘Ricardinho’. Quando ele soube que iria estrear na Gávea me conduzindo, fez questão de vir me ver na cocheira. Entendi quando o mesmo olhou com carinho para mim. Senti que ele necessitava começar vencendo na Gávea, não podia decepcionar o gaúcho”, falou o 5 anos.
Quis saber tudo o que ocorreu durante a corrida do último sábado, nos 1.300 metros da pista de areia carioca, no 1º páreo da temporada 2008/2009 do Jockey Club Brasileiro.
“Mesmo sem ter nenhuma conquista na raia de areia, seja aqui, seja no Sul, naquela tarde eu me sentia de bem com a vida. Durante o cânter, os turfistas perceberam o quanto eu estava tranqüilo e me elegeram favorito do páreo. O Vigil estava um pouco ansioso, mas quando nos encaminhamos para o partidor, mostrei para o mesmo ficar tranqüilo, que não iria decepcioná-lo. Acho que ele entendeu, pois dada a largada, logo fomos para a ponta. Sentia a presença de dois competidores próximos: De Maroñas e Mestre Ouro (que também vinha do Rio Grande do Sul).
Quando entramos na reta final, o gaúcho diminuiu o ritmo, mas tratou de me ajudar. ‘Cuidado tchê, De Maroñas tá avançando por dentro. Aumenta o ritmo guri’, ele me sugeriu e obedeci na mesma hora, mantendo a diferença, conseguindo cruzar o disco na frente, com C. A. Vigil sobre o dorso bastante satisfeito, e deixando De Maroñas 2 corpos atrás. Meu amigo gaúcho chegou em 5º, mas fiz questão de agradecê-lo pela ajuda após a corrida, quando fiquei sabendo que ele é treinado por outro gaúcho querido: Darci Minetto. ‘Bah! Pára com isso, se fosse o contrário tenho certeza que você faria o mesmo guri’, me respondeu Mestre Ouro. E foi assim que consegui somar minha primeira vitória na Gávea, junto com o Vigil e na raia de areia”, conclui o tordilho, de bem com a vida.
Aos 5 anos, Orelhão espera ainda mais para essa nova temporada. “Torço para que o treinador Jesus Batista Nogueira continue o bom trabalho. Tenho de aproveitar enquanto está frio para obter mais as conquistas e deixar a minha marca também no Rio de Janeiro, de preferência com o C. A. Vigil sobre o meu dorso. Meu proprietário Raul Corrêa tem me tratado com muito carinho e só posso retribuir obtendo outras vitórias”, finalizou o cavalo, que mesmo tendo nascido no Mato Grosso do Sul, tem a alma gaúcha, ou seja, amigo dos amigos sempre.
Foto: Gerson Martins
Um comentário:
Tamanho e o amor e alma dos gauchos,quanto a sensibilidade da karol em ouvir os equinos.Simplesmente precisa e perfeita como sempre! Parabens!
Postar um comentário