Olá leitores, depois do pega que ocorreu na semana passada, ainda bem que a coluna desta ficou mais tranqüila, pois conversei com um CRAQUE (em letras garrafais sim) que esteve de passagem pelo Rio de Janeiro no último domingo. Lógico que só posso estar falando de Giruá, que pela terceira vez, só este ano, tem sido nosso convidado no CERCA MÓVEL por puro merecimento.
Adianto aos leitores que não é apenas Eládio Mavignier Benevides, proprietário do tordilho, que está decidido em leva-lo para fora do país. Giruá nem consegue dormir direito pensando no harém que poderá fazer nos Emirados Árabes, como conta na entrevista a seguir.
CERCA MÓVEL: O Grande Prêmio Salgado Filho (G2-1600mG) foi a sua última corrida no Brasil?
GIRUÁ: Sem sombra de dúvidas, sim! Se depender de mim, não corro mais no Brasil. Foi um prazer vir à Gávea e conhecer os turfistas cariocas de perto, pena que nem deu para curtir uma praia, pois só peguei chuva, mas valeu a corrida.
CM: Por quê essa vontade de ir para fora do país? Não gostas do Brasil?
G: Eu amo o Brasil. Nasci em Santa Catarina, no Sul do país. Comecei a atuar na região Nordeste, vencendo a Tríplice Coroa no Hipódromo do Pici, em Fortaleza. Depois vim para o Sudeste, no Hipódromo de Cidade Jardim, onde fiz a maior parte da minha campanha. E agora, vim ao Rio, conhecer a raia de areia carioca e estou feliz com isso. Sou um dos poucos cavalos que têm o privilégio de conhecer tantos lugares belos do Brasil.
CM: Então qual o motivo de querer ir para o exterior?
G: Muito simples. Basta pegar minha campanha. Por mais que eu tenha sido imbatível nas distâncias entre 1.400 e 1.600 metros; encarado potros mais novos, que levaram vantagem de peso; além de ter enfrentado cavalos de grande categoria, não tenho nenhuma conquista em Grupo 1. Na distância que prefiro e na raia de areia, não existe Grupo 1 no Brasil. Então sou obrigado a colecionar, em 14 saídas, 13 vitórias, oito clássicas, sendo a de maior importância as de Grupo 2. Não achas errado? (me indaga)
CM: Tenho de concordar com você. Se ao menos gostasses de provas de fundo, terias como participar do GP Paraná (G1-2400mA), no Tarumã, ou do GP Bento Gonçalves (G1-2400mA), no Cristal?
G: Iria gostar muito, pois conheceria mais dois lugares especiais desse nosso Brasil do turfe. Mas conheço a minha capacidade e sei que sou bom até a milha. Ainda tentei, graças ao meu treinador Mario Gosik, tentar chegar às provas de fundo. Participei em março deste ano do GP Piratininga (G2-2200mA). Cheguei na 5ª colocação, mas sem fôlego. Ou seja, não é mesmo a minha praia.
CM: Acreditas que o trânsito dos cavalos brasileiros será liberado para os Emirados Árabes e para a Europa em tempo?
G: Bem, tenho muita esperança que os dirigentes do turfe brasileiro consigam impor suas idéias junto ao Ministério da Agricultura e aprovem a nossa liberação. Nunca tive nem uma gripe, quanto mais uma doença tão séria como o mormo. Não posso pagar um preço de atrapalhar a minha campanha, por conta de barreiras sanitárias mal feitas. Olha que estive pelo Nordeste, local onde mais se encontra casos dessa doença, mas nunca sequer cheguei próximo de um eqüino com o mormo. Quero ir para Dubai e mostrar, na areia árabe, minhas qualidades. Quem sabe, ainda arrumo umas éguinhas para montar meu harém (sonha em voz alta).
CM: Mas e na hipótese de não conseguir a liberação. Quais seriam os planos do milheiro Giruá? Ficar no Brasil?
G: (Começou sorrindo, antes de responder) Esqueça a possibilidade de me ver atuando ainda no Brasil. O Salgado Filho (G2-1600mA) foi a minha última corrida e necessitava ser na Gávea. Caso o trânsito para os Emirados Árabes não seja liberado, é bom pararem de me chamar de milheiro, pois meu destino será os Estados Unidos, e por lá vou querer correr em distâncias mais curtas (as preferidas dos cavalos que lá estão). A grande vantagem é que as corridas na areia da América do Norte são o destaque, então estarei no lugar correto. Infelizmente, diferente do Brasil.
CM: Por quê a ênfase no “necessitava ser na Gávea” na resposta anterior?
G: Simples, porquê muito antes de pensar em ser embarcado para fora do país, cheguei a ouvir comentários maldosos de alguns cavalos cariocas que estiveram por São Paulo. Eles diziam que eu havia ganho o Troféu Mossoró de melhor arenático do país sem antes ter encarado a turma do Rio de Janeiro, em pleno Hipódromo da Gávea. Então nada mais justo que me despedir do Brasil em plena pista carioca, com uma vitória fácil.
CM: Giruá, no Rio de Janeiro, pelos próximos quatro meses, as provas clássicas serão na raia de areia. Não seria bom você ficar aqui na Gávea nesse tempo?
G: Isso seria uma terceira possibilidade, porém muito vaga. Apesar dos boatos maldosos, fui muito bem recebido no Hipódromo da Gávea. Estou até dando entrevista (sorri). Mas, na minha cabeça, e acredito que também na mente do meu responsável, mesmo sem poder falar com ele, existe as seguintes opções: 1º Dubai; 2º Estados Unidos; 3º Rio de Janeiro. Vale destacar que o trânsito para os Estados Unidos está liberado (aproveita para frisar).
CM: Quer falar um pouco da vitória no GP Salgado Filho (G2-1600mA), realizado no último domingo, no Jockey Club Brasileiro?
G: Com o maior prazer. Quando deu a largada, vi o cavalo Robber Danz, que estava ao meu lado no partidor, sair desembestado para assumir a ponta. A raia estava escorregadia, pois havia chovido muito naqueles dias no Rio de Janeiro. Segui em 6º, mas antes de encerrar a reta oposta, já estava posicionado em 3º, sempre dando vantagem aos rivais. Ao entrar na reta final, João Moreira me deu rédeas e, pelo meio de raia, comecei a diminuir a vantagem para os ponteiros. Quando emparelhei com Robber Danz, acharam que eu iria duelar, mas o Moreira só precisou me mostrar o chicote, alertando que estava na hora do show. Nem quis saber de mais nada, olhei para a frente e só fui parar quando meu jóquei começou a me sofrear, bem depois de ter ultrapassado o disco de chegada.
CM: O que passa na cabeça de um craque como Giruá quando se está em carreira?
G: Sinceridade, em nada! Fico em transe. Meu jóquei só precisa me mostrar o chicote, nada de me bater. Nesse momento, sei que é a hora do show, então meu corpo fala por mim, pois só desejo correr, correr, e cada vez correr mais e mais. Juro que se não me freiam, dou outra volta, lógico que com um ritmo mais baixo, pois rendo melhor até a milha.
CM: Assim como tens planos de ir embora do país, futuramente existe algum outro de retorno ao Brasil?
G: Bem, é uma pergunta difícil. Não sei o que está me esperando lá fora. Só pretendo ir e fazer o melhor de mim. Mas quem sabe não volto ao Brasil para me aposentar ou para virar garanhão. Não seria nada mal ter uma éguinhas ao meu dispor.
Após a última resposta, o cavalo filho de Bonapartiste e Ellefrance (Fast Gold), criado por Eloi José Quege foi embora, na busca pelo seu sonho, que é correr no festival dos Emirados Árabes, em março de 2009. Torcida, no Brasil todo, é que não vai faltar para o tordilho mais nacional que pintou pelas pistas brasileiras de corrida.
Até a próxima pessoal!
Um comentário:
Caro editor e turfistas.
Como criador do craque Giruá, quero agradecer a imprensa do turfe brasileiro pelas mensagens de admiração e carinho. Como pequeno criador sinto-me recompensado e me vem a lembrança do seu nascimento e os vinte meses que cresceu em Três Barras - SC. Dizer que através de nosso craque quero homenagear os pequenos criadores do nosso país. Salientar que boas éguas de excelentes pedigrees, produtos bem criados, de bons aprumos não se restringem a grandes haras.
Obrigado ao Sr. Eladio Benevides que acreditou num pequeno criador.
Obrigado e um forte abraço a todos!
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