quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Quando (quase) tudo dá certo

Quem me conhece um pouco mais, sabe que adotei o Rio de Janeiro como meu lar por diversos motivos, mas independente de morar na Cidade Maravilhosa, me entrego ao máximo para que o CERCA MÓVEL seja sempre nacional. Hoje, por sinal, estou escrevendo de Curitiba e curtindo um friozinho bom danado. Na verdade, um nevoeiro daqueles.

Porém, como ainda não saí para conversar com os cavalos paranaenses, até por conta da hora, vou retratar para os leitores um fato que ocorreu no último final de semana em Cidade Jardim, com os corredores do Haras Figueira do Lago.

No sábado, as carreiras paulistas tiveram como grandes astros Ignis, vencedor da Prova Especial Duque de Caxias (1200mA) para cima do recordista da distância Old Gipsy, bem como Ilano, que surpreendeu os 12 rivais e os turfistas, pois manteve ½ corpo de vantagem sobre Hariolus ao cruzar o disco no Clássico Cândido Egydio de Souza Aranha (L.-2000mG), pagando R$ 25,00 a cada real apostado.

De domingo até a segunda-feira, quem mandou na raia do Hipódromo de Cidade Jardim foram os nascidos no Haras Figueira do Lago. Com quatro corredores anotados, a coudelaria pôde vibrar com três vencedores e um segundo lugar, ou seja, performance para lá de proveitosa.

Por conta disso, fiz questão de fazer uma pequena conferência virtual com os eqüinos que ficam na cocheira de Marco G. Campos, em São Paulo. (Tô dizendo que essa coluna é nacional!!!)

Quis seguir a ordem dos fatos e por isso conversei primeiro com Acqua di Selva. A filha de Choctaw Ridge e Nações Unidas (Midnight Tiger), mesmo abandonada nas apostas, foi a vencedora do 7º páreo da programação.

“Me dou super-bem com Waldomiro Blandi e os 1.400 metros, pista de grama, era tudo o que eu precisava para sair da raia com a vitória. Ainda bem que tudo deu certo e mantive cabeça à frente de Helô”, conta a potranca, que pagou R$ 8,00 aos turfistas que nela confiaram e deu o pontapé inicial na semana do Figueira do Lago.

Para fechar a domingueira, entra na pista o recordista dos 1.300 metros, pista de grama, Zeitz, correndo justamente na distância e raia de sua preferência. Não teve jeito, foi apontado favorito e em ação, deu um vareio nos rivais.

“Bondade sua dizer que dei um vareio (brinca). Estava chateado com minhas últimas atuações e passei a ficar cabisbaixo na cocheira. Certo dia, o supervisor Mario Rodrigues Campos passou pelo meu box, olhou para mim e comentou. ‘Você voltará a dar alegrias. Basta querer!’. Aquelas palavras me encheram de brio e confiança. Quando entrei no domingo, na pista paulista, te garanto que ninguém ganharia de mim. Por isso venci com tanta facilidade. Voltei a confiar em mim”, ensina o filho de Choctaw Ridge e Zanzada (Purple Mountain).

Logo no 2º páreo da noturna de segunda-feira, devido aos 100% de aproveitamento na reunião de domingo dos corredores do Figueira do Lago, os turfistas não tiveram dúvida e lançaram Asia de Cuba como favorita nos 1.400 metros da raia de areia macia.

“Infelizmente não consegui aparar o corredor Visgo, que mereceu a vitória. Mas não cheguei muito longe e quem sabe em um próximo encontro eu dê o troco”, avisa, ainda chateada, a potranca de 3 anos filha de Napolitano e One More Dream (Choctaw Ridge).

Talvez o fato de Asia de Cuba não ter confirmado as esperanças dos turfistas, fez com que Zabaleta não fosse apontada favorita no páreo seguinte. Pagando R$ 2,50, a filha de Grand Vefour e Over the Stars (Be My Chief), nascida e criada no Haras Figueira do Lago, largou e cruzou o disco na frente de Princess Famous (a favorita).

“Estava voltando a correr em 1.300 metros, grama. Estou acostumada a trabalhar em parelha com Zeitz e ele também me passou algumas dicas de como atuar nessa distância e raia. Segui os conselhos do recordista e venci com certa facilidade”, relembra a égua, que deixou a segunda colocada 2 ½ corpos atrás.

Depois de cada um dos competidores dar sua versão da corrida, o CERCA MÓVEL quis saber se eles tinham combinado alguma coisa para obter tamanho sucesso e o Zeitz, único cavalo entre as fêmeas do Figueira do Lago que correu, foi quem pediu a palavra para responder.

“Dentre os corredores que atuaram esta semana, quem tem o maior número de carreiras sou eu. Contei para minhas companheiras de trabalho o que ouvi do supervisor Mário Rodrigues Campos e o quanto estava feliz por fazer parte desse time vencedor, que ainda é composto pelo treinador Marco G. Campos, do jóquei Waldomiro Blandi, do veterinário Bernardo Manzione Espinhal, além, é claro, do casal titular do Haras Figueira do Lago, Álvaro e Barbara Magalhães.

Deixei claro que eu iria fazer de tudo para vencer e acho que a minha empolgação contagiou as garotas e no final tudo deu certo, pois Asia de Cuba pode não ter cruzado o disco na primeira posição, mas lutou ao máximo e isso é muito valioso”, defende.

Pelo que pude perceber leitores, as “meninas” do Figueira do Lago gostam mesmo é do castanho de 4 anos, a sensação da cocheira do Figueira do Lago.

Encerro a coluna por aqui, mas pretendo aproveitar a minha estadia aqui no Paraná para conversar com o garanhão Redattore, vencedor do Troféu Mossoró 2008 e pai dos potros Davignon e Estrela do Oriente (preciso dizer mais alguma coisa?). Até a próxima meus amigos.

Fotos: Paulo Bezerra Jr. (Pica-Pau)

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Potranca reclama, “querem acabar com a minha honra”

Olá leitores fiéis! O CERCA MÓVEL dessa semana abriu espaço para uma potranca que merece todo o nosso respeito. A líder carioca e candidata ao título de tríplice coroada em São Paulo,Tanta Honra (foto), pediu para botar a boca no trombone através do nosso espaço.

“Aqui é o lugar mais correto para reclamar, pois é onde os humanos e eqüinos finalmente se entendem de alguma forma”, iniciou a potranca.

Bastante chateada, a filha de Crimson Tide e Tana-Am (Nashwan), criada por Luis Antonio Ribeiro Pinto, explicou com exclusividade para nossos leitores o que a fez ficar chateada.

“A programação clássica do Jockey Club de São Paulo só pode ser uma brincadeira de mau gosto. Encarei 10 horas de viagem para chegar ao Hipódromo de Cidade Jardim e competir no GP Barão de Piracicaba (G1-1600mG), tornando-me candidata ao título de tríplice coroada.

Após vencer no último dia 9 de agosto, encarando uma pista de grama pesada, mas com direção tranqüila de Marcos Mazini, voltei a subir no caminhão e tive de sofrer com mais 10 horas de viagem.

Bem, até aí tudo bem, pois estava feliz com a conquista e não via a hora de chegar na minha cocheira, no Centro de Treinamento Dedo de Deus, e contar para as minhas amigas como foi o páreo”
, alivia-se.

Aproveitei o momento e pedi para Tanta Honra voltar ao dia 9 de agosto e contar para o CERCA MÓVEL sobre como foi a primeira etapa da Tríplice Coroa de potrancas em São Paulo.

“Eu larguei pela baliza 1 e assisti Shining Queen fazendo questão de ir para a ponta, mas não me preocupei, até porquê havia visto, antes de alinharmos, ela e Square Dancer (sua parelha) trocarem confidências. Dada a largada e vendo a atitude da defensora do Araras, saquei na hora que ela faria papel de faixa. Então, tratei de correr contida.

Nesse momento, Cores do Brasil saiu desesperada para assumir a segunda colocação. Nem me preocupei e fiquei na terceira posição. Ao final da curva, tratei de correr mais aberta e forcei a diagonal para chegar primeiro na cerca externa. Deu certo e então meus amigos, não teve mais jeito.

Peguei o melhor terreno mais cedo que as minhas rivais e estava inteira. Quando o Mazini me pediu para trocar de mãos, disse adeus para as competidoras e cruzei o disco na frente, sem grandes dificuldades.

Confirmando a minha desconfiança, quem formou a dupla foi Square Dance, com Lovely Lady, Nergy’s Star e Shining Queen completando o marcador. Me surpreendeu o fato de Cores do Brasil, favorita absoluta dos turfistas paulistas, ter chegado descolocada”
, comenta Tanta Honra, pedindo para voltar ao assunto que a trouxe para a coluna desta semana, no que eu permiti imediatamente.

“Pois bem, fiz um corridão, tudo saiu como planejado. Cheguei em casa (Teresópolis) e descansei. Esta semana, quando saio da cocheira em direção à raia para trabalhar a distância dos 1.800 metros, vejo a cara triste do meu treinador Júlio Cesar Sampaio, para os mais íntimos, ‘Alemão’.

Ele olha para mim e diz (sem nem saber que eu tava entendendo). ‘Não é correto fazer isso com você minha campeã. Te colocar para viajar mais 20 horas em menos de 30 dias é crueldade’. Eu não entendi nada, por isso assim que cheguei na cocheira, tratei de pegar uma revista Turf Brasil e entender o que meu treinador dizia.

Estava lá: GP Henrique de Toledo Lara (G1-1800mG), segunda etapa da Tríplice Coroa de potrancas, marcado para o dia 6 de setembro. Ou seja, apenas 28 dias da primeira para a segunda etapa da Coroa.

Isso é uma sacanagem conosco, que somos corredores e viajamos de caminhão. Os responsáveis por essa programação clássica só pensaram nos humanos e esqueceram de nós, puro-sangue inglês. Se eu morasse em São Paulo, tudo bem, mas moro em Teresópolis. A viagem é longa e cansativa.

Será que não queriam a presença de competidoras de outros Estados na carreira, por isso essa tabela?”
, provoca Tanta Honra.

A defensora do Stud São Francisco da Serra está decidida a não correr o GP Henrique de Toledo Lara (G1-1800mG), porém ainda tem planos de voltar a São Paulo neste ano de 2008.

“Estou chateada sem dúvidas. Não quero desmerecer as minhas concorrentes, mas por eu ter ganho a primeira etapa, era a única candidata ao importante título de tríplice coroada. Queria muito obte-lo, mas tenho que pensar no futuro.

Pretendo correr outras provas importantes e não posso me sacrificar dessa forma agora, com apenas 3 anos. Afinal de contas, ainda tem a Tríplice Coroa carioca no começo do ano 2009.

Sendo que antes que as minhas rivais pensem coisas erradas sobre a minha não participação na segunda etapa da Coroa, quero deixar avisado que faço questão absoluta de estar alinhada para o GP Diana (G1-2000mG) no dia 4 de outubro. Não vão acabar com a minha honra, garanto”
, encerra a castanha de 3 anos, mas que mostrou ter muita responsabilidade consigo mesma com a atitude tomada.

As paulistas com certeza vão fazer a festa no GP Henrique de Toledo Lara (G1-1800mG) e não deixarão a vida de Tanta Honra fácil no GP Diana (G1-2000mG). É esperar para ver!

Foto: Paulo Bezerra Jr.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Éguas fazem a festa do Matungo

Olá leitores fiéis (não que sejam corinthianos, mas por passarem aqui semanalmente, para entender um pouco mais sobre o que se passa na cabeça dos cavalos de corrida). Após a semana do Grande Prêmio Brasil, todas as atenções dos turfistas brasileiros ficaram em São Paulo, com a realização do GP Barão de Piracicaba (G1-1600mG), a primeira etapa da Tríplice Coroa de potrancas.

Tanta Honra descontou pelos cariocas, que perderam pelo terceiro ano consecutivo o BRASIL para um paulista (Top Hat este ano), e tratou de mostrar o porquê é a líder entre as potrancas do Jockey Club Brasileiro.

A filha de Crimson Tide será a atração da próxima coluna com todos os méritos, mas não tive como fugir da alegria esfuziante das éguas Japyhara e Cascoxa após a realização do 4º páreo da programação da última sexta-feira, no Hipódromo da Gávea. E foi com elas que conversei, pois vi tudo o que rolou com as pensionistas de Valdemir Pedersen durante a corrida.

Dada a largada, Cascoxa, que largou pela baliza 7, dando vantagem a todas as rivais, saiu gritando. “Saiam da frente que lá vou eu!”, avisou às competidoras que largaram por dentro. Antes de encerrar a reta oposta, a filha de Know Heights e Na Brasa (Hostage), criada pela Agro Pastoril Haras São Luiz, já assumia o train de carreira.

Enquanto isso, mesmo saindo da baliza 4, Japyhara se viu em maus lençóis. Tomava muita areia na cara e chegou a se engasgar. Com Dalto Duarte sobre o dorso, mostrou que por ali não tinha como continuar em carreira.

Resultado, fez com que o jóquei a conduzisse um pouco mais aberta. “Ainda bem que estás me entendendo. Caso contrário, eu iria fazer você comer um quilo de areia”, ainda reclamava Japyhara, sem saber se Dalto entendia ou não o que ela falava.

Enquanto isso, ainda na ponta, Cascoxa entrava firme na reta final, mas logo começou a sentir a pressão de Mona Lisa, enquanto a favorita La Espadana também tentava uma aproximação.

Me assustei com a atitude de Japyhara na altura dos 350 metros finais. “Segura as pontas aí Cascoxa, que agora é a nossa vez”. Acabado de falar, a filha de Fritz e Play-Rumba (Thundering Force), criada por Fabio Linck Waihrich, começou a avançar de forma avassaladora.

No começo, estava na frente de apenas uma competidora. Passados mais 100 metros, já assumia a ponta e voava para vencer com grande facilidade, abrindo 4 ½ corpos ao cruzar o disco.

Sendo que antes de garantir a segunda vitória da campanha, ao passar por Cascoxa, Japyhara deixou um aviso. “Não deixe a peteca cair. Vamos fazer o combinado.”
Mesmo ainda sofrendo grande pressão por parte de Mona Lisa, Cascoxa conseguiu chegar na dupla e formar a dobradinha para Marco Aurélio Cardoso Ribeiro.

Entusiasmada com o final da carreira, tratei de abordar as defensoras da farda rubro-negra para descobrir o que era o tal “combinado”, no que fui logo respondida pela campeã Japyhara.

“Andávamos chateadas com nossas últimas atuações. Também andávamos muito mal por não atendermos as perspectivas do nosso proprietário Marco Aurélio Ribeiro. O patrão multi-funcional (locutor, jornalista, treinador, autor, etc.) faz de tudo por nós. Gasta com nosso trato, sempre aparece na cocheira para nos dar carinho e, em carreira, só o decepcionávamos.

Pior foi vê-lo em ação no sábado da semana internacional carioca. O cara deu um show de transmissão e, como craque que é, deveria nos mandar para fora da cocheira, pois também merece campeões (lamentava). Contudo, ele continuou confiando na gente. Por isso combinamos de presenteá-lo com a primeira dobradinha da farda rubro-negra no Hipódromo da Gávea”, explicou Japyhara.

Cascoxa também fez questão de deixar seu recado. “Além de tudo o que a Japyhara falou, tem algo de mais importante ainda. O patrão multi-funcional pode até não falar com os cavalos, mas é o único que assina, sem vergonha, como um eqüino. Afinal de contas, ele é o Matungão mais craque que eu conheço e tenho prazer de correr com sua farda”, encerrou, saindo rápido para a foto da vitória.

No winner-circle (foto), o Matungo-humano estava lá, todo eufórico, segurando suas duas éguas (para muitos matunguinhas), que para ele, com certeza, são craques (ou ao menos foram naquela noite).

Parabéns Marco Aurélio Cardoso Ribeiro e obrigada Japyhara e Cascoxa pela bela demonstração de carinho com o chefe (afinal de contas, patrão é patrão!).

Até a próxima semana!

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Top Hat comemora o Brasil 2008

Muito sorridente e não dando nenhum sinal de cansaço, o alazão Top Hat cumpriu o prometido e falou com exclusividade com o CERCA MÓVEL após conquistar o Grande Prêmio Brasil 2008 (G1-2400mG), realizado no 7º páreo de ontem (domingo), no Jockey Club Brasileiro.

Apenas ofegante, o filho de Royal Academy e Tavira (Effervescing) preferiu começar a reportagem falando sobre os seus familiares.

“Sou irmão materno da Tale e Quale, égua que no ano 2000 venceu o GP Organização Sulamericana de Fomento ao Puro-Sangue de Corrida (G1-2000mG), hoje chamado de Roberto e Nelson Grimaldi Seabra. Na mesma semana internacional carioca, Straight Flush, que assim como eu tem como avô materno Effervescing, vencia o primeiro GP Brasil para o Haras São José da Serra e tinha 5 anos. Fico extremamente satisfeito em manter a qualidade dos produtos lá nascido ao ganhar a importante carreira aos 6 anos”, reconhece.

Sobre o jóquei, o alazão não precisou se estender muito. “Eu e o Altair Domingos formamos uma parceria que funciona. Consegui o bi no GP ABCPCC – Matias Machline (G1-2000mG), em junho deste ano, em São Paulo, com ele sobre o dorso. Só corri o GP Brasil deste ano porquê Altair confirmou que me conduziria. Caso contrário, preferia nem viajar para o Rio de Janeiro.”

Na prova máxima carioca, Top Hat não deu confiança nem ao companheiro de cocheira Quick Road, muito menos aos outros competidores.

“Cheguei a pensar que teria alguém no meu pé, mas ninguém veio me pertubar, o que tornou ainda mais fácil a minha conquista. A baliza 1 foi presente dos deuses dos cavalos, pois fui sem problemas para a ponta e em momento algum me senti ameaçado. No final da reta oposta, queria iniciar a atropelada e ainda tentei virar o pescoço para ver se alguém estava se aproximando, mas como senti o Domingos tranqüilo sobre mim, continuei galopando confiante.

Chegou na reta final, faltando apenas 300 metros para o disco, foi quando meu jóquei se mexeu. Sendo assim, que me desculpe o Quick Road, companheiro no Stud JCM, que vinha treinando muito para esta prova, mas não tive como não vencer o páreo. Só se eu parasse e aguardasse ele passar”, brinca, sob o olhar reprovador de Quick Road, que estava ao seu lado, acompanhando de perto o bate-papo.

Sendo que Top Hat aproveita para deixar um recado. “Só teve uma coisa que não gostei. Meus adversários, que não ficaram na raia porque perderam, não tiveram o susto que tomei com aquela chuva de papel picado. Fala sério, queriam me matar do coração? Espero que não me deixe um trauma àquele momento.”

Nesse instante, o cavalariço Reginaldo trás água para o alazão, que bebe o balde em poucos instantes para poder retomar a entrevista.

“É por isso que fico muito mais feliz em vencer uma prova importante como o GP Brasil. Pelos profissionais que cuidam de nós como se fôssemos seus filhos. O Reginaldo comigo e o Leandrão, com Quick Road, fazem-nos muitos mimos, isso sem falar do nosso treinador João Macedo. Ele viaja conosco no caminhão, ao invés de ir de avião como outros treinadores fariam. Sem falar que está aqui conosco, e não no pódio recebendo o troféu, pois o mais importante para ele não é aparecer e sim nós (os cavalos) sermos reconhecidos.

Também não posso esquecer do Julio Cesar Mesquita, que nos adquiriu e nos deixou sob os cuidados do Macedo. Sei muito bem que poderia ter sido negociado para o exterior e ter um futuro incerto. Sim, porquê já soube de casos que produtos brasileiros, acostumados com alguns mimos de seus cavalariços no país, chegam nos Estados Unidos, ou nos Emirados Árabes, e precisam, além de se ambientar com o clima, agüentar treinamentos inadequados, pondo fim a uma campanha que poderia ser gloriosa.

Vejam meu caso. Tenho 6 anos e me sinto com 4, que foi quando corri pela primeira vez o GP Brasil. Na época, fiz parelha com o Tchintchulino e ambos fomos prejudicados, mas ainda cheguei na 6ª posição. No ano seguinte, comecei a fazer parelha com o Quick Road e me sinto honrado em ter cumprido meu papel de faixa no GP São Paulo (G1-2400mG). Cheguei longe, mas ele ganhou a prova.

No Brasil do mesmo ano, foi a vez dele sofrer prejuízos ferrenhos e amargar um 9º lugar. Eu, por minha vez, fui 4º colocado. Agora, em 2008, queria muito que o Quick Road ficasse com a vitória, mas vencer é muito bom sempre. Por eu ter permanecido na equipe, consigo colocar em minha campanha essa prova máxima carioca”
, empolga-se nas palavras Top Hat.

Quis saber o que o alazão pretende para o futuro, no que fui prontamente respondida.

“Hoje (domingo) quero curtir esta vitória, voltar para a minha cocheira no Centro de Treinamento Porto Feliz e comer muito. Depois eu devo descansar alguns dias até voltar a trabalhar forte. Quero muito encerrar minha campanha no GP Latino Americano 2009 (G1-2000mG), que na próxima edição será realizado no Hipódromo de Cidade Jardim, raia que muito conheço e na distância que tenho preferência.

Todos sabem que passei a ser muito mais visado pela crônica turfística após vencer o GP ABCPCC - Matias Machline (G1) de 2006, pois além de ter sido meu primeiro Grupo 1, também obtive o recorde dos dois quilômetros paulista, que, modéstia parte, acho difícil alguém abaixar de 1’56”294.

Ganhar o Latino Americano garantiria meu quarto Grupo 1 na campanha e assim poderia ir tranqüilo atuar no haras como garanhão, escolhendo as melhores éguas para cobrir”
, sonha alto.

Indaguei sob a possibilidade do mesmo correr o internacional GP Carlos Pellegrini (G1-2400mG), final do ano, na Argentina.

“A resposta anterior casa-se perfeitamente com a sua pergunta. Entre correr 2.400 metros ou 2.000 metros, prefiro o último caso. Se tiver de ir, tudo bem, mas prefiro que Quick Road represente a equipe do JCM. Deixa o velhinho aqui descansar para encarar o Latino Americano!”, sorri o vencedor de 11 corridas, sendo sete clássicas (quatro de Grupo 1) e seis colocações, dando por fim a entrevista exclusiva prometida.

Foto: Karol Loureiro