quinta-feira, 18 de junho de 2009

Top Hat ensina o real sentido da palavra amizade

Quem consegue entender os cavalos como eu, basta passar perto de Top Hat que logo verá o cavalo do Stud JCM feliz da vida. Desde que os seus responsáveis o informaram que iria atuar agora na reprodução, o filho de Royal Academy e Tavira (Effeverscing), criado no Haras São José da Serra, não pára de sorrir por qualquer motivo.

Foi relinchando de felicidade que conversei com Top Hat pelo telefone, com o mesmo curtindo seus últimos dias no Centro de Treinamento de Porto Feliz, em São Paulo. Quis saber dos planos futuros dele.

“Planos futuros? Quero que você me perdoe Karol, mas você tem de perguntar o futuro de Nuestro Hermano ou Quick Road, que defendem as cores do Stud JCM e ainda estão em campanha. Para mim, a pergunta tem de ser, como é viver sem planos futuros?”, sugere o alazão.

Pegando carona na sua idéia, quis saber então como é viver sem planos futuros e fui logo respondida.

“Maravilhoso! Só em saber que não terei mais de viajar para competir nas pistas; que vou curtir uma merecida aposentadoria e ainda conhecer umas éguas interessantes, deixando uns herdeiros, são motivos para não parar de relinchar de felicidade. A minha vida será, daqui para a frente, uma grande festa”, torce.

Pela tamanha empolgação, cheguei a acreditar que Top Hat não dava o menor valor para a época em que atuava, mas o cavalo me surpreendeu com a resposta.

“É lógico que sempre valorizarei e muito meu trabalho na raia e lembrarei muito dessa época, pois foi através da minha vida na raia, das boas apresentações, vitórias e colocações, que fui selecionado para ser um garanhão. Caso eu não tivesse obtido resultados expressivos nas raias brasileiras, agora, quem sabe, iria para uma fazenda qualquer, puxar carroça, em vez de ser um garanhão”, explica.

Então aproveitei a deixa e quis saber do cavalo de 6 anos (em 1º de julho chegará aos 7) qual o momento mais importante da sua campanha nas pistas brasileiras e outra vez, obtive uma resposta surpreendente.

“Atuei em 25 oportunidades, obtendo 11 vitórias e seis colocações, ou seja, fiquei poucas vezes fora do placar. Dentre as conquistas, algumas clássicas e de Grupo 1, sendo que lembro de dois momentos em especial. O primeiro ocorreu em 24 de junho de 2006, quando venci o GP ABCPCC - Matias Machline em São Paulo pela primeira vez.

Era meu primeiro Grupo 1 e acabava de registrar o recorde dos 2.000 metros da pista de grama do Hipódromo de Cidade Jardim, que dura até hoje e que muitos chegaram a comentar que seria um recorde mundial.

Mas, além de todos esses fatos, na mesma data, alguns minutos antes, um jovem potro mostrava ter grande potencial e seria um parceiro para diversos outros momentos da minha vida. Na mesta tarde, Quick Road (na época com 2 anos) venceu o GP J. Adhemar de Almeida Prado (G1-1600mG), a Taça de Prata. Ou seja, conseguimos numa tarde dar uma alegria dupla para o treinador João Macedo e para Julinho Mesquita, nosso proprietário.

E o mais especial, nos tornarmos amigos, eu e o Quick Road”
, relembra com os olhos marejados.

Antes de deixar ele contar sobre o segundo momento mais importante que viveu durante a campanha, quis saber de Top Hat como foi que fez amizade com Quick Road.

“Hora, muito simples. Quando entramos no caminhão, no mesmo dia 24 de junho de 2006, ou seja, há quase 3 anos, iniciamos a nossa amizade. Estávamos muito felizes, eu tinha estipulado o tempo de 1’56”294 para os dois quilômetros paulista, marca que existe até os dias atuais e também obtido a primeira conquista de Grupo 1.

Ele, Quick Road, apesar de ser mais novo, garantia a segunda vitória consecutiva da campanha e ambas em Grupo 1, ou seja, era um fenômeno, poderia ter nem me dado bola ou assunto e ter se tornardo a estrela do Stud JCM, mas ocorreu justamente o contrário.

O filho de Jules e Jamaica Road (Ghadeer), criado pelo Haras Santa Maria de Araras, chegou perto de mim, mostrando muita humildade nos olhos, e disse: ‘parabéns! Você é um exemplo para qualquer cavalo de corrida. Quero ser um terço do cavalo que és.’

Aquilo mexeu comigo de tal forma, que eu fiquei sem palavras. Consegui sorrir, dar um abraço nele e dizer. ‘você já é um grande cavalo e quero ter o prazer de atuar ao seu lado’. Pronto, ali nasceu uma grande amizade, que irá durar até a nossa morte, com toda certeza do mundo”
, explica.

Para não perder o nosso assunto anterior, quis saber de Top Hat seu segundo momento inesquecível enquanto atuou nas raias brasileiras, e ele me respondeu, inicialmente com uma pergunta, para depois me deixar confusa.

“Não ficou fácil de saber depois de tudo o que eu te disse? Lógico que meu segundo momento inesquecível ocorreu em 20 de maio de 2007”, falou.

Consultei meus dados e lembrei que na referida data ele tinha atuado no GP São Paulo (G1-2400mG) e chegado longe, na 16ª posição, então não entendi o motivo da escolha pela data, no que Top Hat explicou facilmente.

“Ora, o vencedor foi o Quick Road e fiz toda a corrida para que ele levasse o páreo. Atuei na frente, com diversos competidores me vigiando e, na reta final, deixei o espaço necessário para que meu melhor amigo vencesse a principal prova do turfe paulista.

Sendo que ele também foi providencial para a minha vitória no GP Brasil 2008 (G1-2400mG), realizado em 3 de agosto.

Atuou quieto e me deixou florear na frente com muita vontade. Todos os adversários trataram de vigia-lo, pois pensavam que eu diminuiria o ritmo, como havia feito no ano anterior em São Paulo, mas não foi como os rivais pensaram.

Quick Road só engrenou na prova, quando percebeu que não tinha mais como eu perder, então atropelou e ficou na 4ª posição. Ali, naquele momento, descobria o verdadeiro significado da palavra amizade: devoção”
, não consegue conter as lágrimas o cavalo.

Para encerrar, pedi para Top Hat nos confidenciar onde irá ficar agora que se tornou um garanhão.

“Não sei ao certo em qual haras irei servir. A única certeza que tenho é que ficarei na minha primeira temporada de monta no estado de São Paulo. Então, as éguas que quiserem ser felizes e produzirem produtos de qualidade, favor se inscreverem para entrarem na minha vida. Estou esperando por cada uma de vocês meninas.”

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Tangará leva e desculpa-se com True Classic

A semana anterior foi repleta de assuntos no nosso turfe. Estive em Porto Alegre e observei que os cavalos puro-sangue inglês curtem correr no frio, pois até uma pequena geada surgiu durante a reunião que prestou homenagem a diversos cronistas e jornalistas do turfe nacional.

Queria agradecer publicamente à simpática Serena Dodge, que venceu o 4º páreo da programação gaúcha onde fui uma das homenageadas pelo Jockey Club do Rio Grande do Sul. Após a corrida, a filha de Dodge e Zitanic (Spend A Buck), de criação e propriedade do Haras Anderson, me falou “queria muito ganhar essa prova, pois sou uma assídua leitora do CERCA MÓVEL e um dia, quem sabe, serei notícia do blog.”

Voltando para o Rio de Janeiro na sexta-feira, acompanhei de casa o desenrolar do GP Presidente Roberto Alves de Almeida (G2-1600mA), realizado no 5º páreo da reunião de sábado, no Jockey Club de São Paulo.

Todos que assistiram a prova observaram o choque entre a favorita True Classic e Tangará, vencedora da carreira. Liguei para a campeã em seguida e quis saber o porquê do incidente de percurso, no que fui prontamente atendida pela defensora do Haras Interlagos Ltda.

“Puxa, foi uma coisa triste, mas em momento nenhum quis me chocar com a potranca True Classic. Eu larguei pela baliza 7, era a mais distante da cerca interna, então tratei de buscar a externa, pois tinha mais caminho livre. Sabia que True Classic era a ponteira, mas ela corria pela linha 1, coladinha à cerca interna.

Quando encerrou a reta oposta, avisei as minhas adversárias que iria cruzar a raia. Lembro que gritei, ‘estou fazendo a diagonal meninas’. Sendo que True Classic não deve ter ouvido, pois no mesmo momento que eu cruzava a pista, ela abria, por isso nos encontramos no meio do percurso e nos chocamos”,
explica.

Depois do esbarrão, True Classic continuou mandando na prova, tendo Tangará na dupla. Sendo que a americana Swiss Lemonade também quis entrar na disputa e entrou na reta final ocupando a 2ª posição, que antes pertencia à nossa entrevistada.

“Não entendo muito o inglês equino. Sendo que percebi que Swiss Lemonade gritou para mim: ‘stop!’. Lógico que não parei, apenas dei espaço para ela ficar na minha frente. Quando ela emparelhou com True Classic, a potranquinha se assustou e diminuiu o ritmo. Isso é normal acontecer, pois ela tem apenas 2 anos, está começando agora na profissão de atleta e desde então só tinha vencido.

O choque comigo pode ter deixado ela amendrontada, mas nada que uma terapia não resolva. Aproveito, inclusive, para pedir desculpas pelo esbarrão, pois não foi de propósito. Eu até me senti meio culpada pelo baixo rendimento dela no páreo, por isso, estava até disposta a deixa-la ganhar àquela corrida, mas como ela não teve mais patas para tal, tratei de correr o que eu sei e fiquei com a vitória sobre Swiss Lemonade”
, discursou Tangará, que agora só pensa em descansar.

“Acho que está na hora de parar. Tenho 4 anos e no final deste mês chegarei aos 5. Quero me dedicar à maternidade. Ser mãe, ter bons corredores, namorar. Enfim, cansei do mundo das corridas, quero relaxar”, encerra a filha de Choctaw Ridge e Tamrah (Lomond), que obteve a sua primeira vitória graduada, em 18 apresentações.

DOBRADINHA ESTRELADA

Avisei para vocês leitores que a semana estava recheada de atrativos, por isso, temos mais um assunto a ser tratado, mas serei “rapidinha”.

Domingo, 5º páreo da reunião do Jockey Club Brasileiro, fui à Gávea assistir ao GP ABCPCC (G1-1600mG), considerado o Criterium dos 2 anos. Oito competidores no campo. Sendo que antes de largar, Us Open pediu para sair.

“Queria chamar a atenção dos meus donos, pois havia avisado que não estava afim de correr àquele dia e eles não me deram ouvido. Por isso, aprontei mesmo”, revelou o jovem, que precisa ser reeducado na cocheira.

Sem Us Open, o páreo rolou com sete competidores. O favorito Trapeze fazia uma corrida impecável, sempre ponteando, quando ao entrar na reta final o jóquei Marcos Mazini perdeu o chicote.

“Também errei! Estava acostumado com Mazini e confiava completamente nele para me colocar em corrida. Fiquei esperando, esperando e nada dele me exigir. Só depois que percebi que ele estava sem o chicote, ai tentei ir por conta própria, mas já era tarde demais”, lamentou o defensor do Stud Alvarenga.

Por outro lado, Uncle Tom e Oroveso fizeram uma corrida a parte. O primeiro ficou com a vitória, mas o outro colaborou e muito para que o companheiro de cocheira vencesse.

“Devo muito ao Oroveso, pois ele brigou na frente e não deixou Trapeze escapar. Por isso, quando acelerei mais aberto, com pista livre, ficou fácil ganhar a corrida. Também o considero um campeão, pois teve fôlego para formar a dobradinha para o Stud Estrela Energia”, comemorou Uncle Tom.

Oroveso também mostrou alegria com o resultado.

“Atuei bem, tinha chance até de ficar com a vitória e deixar Uncle Tom na dupla, ou seja, inverter o resultado. Mas o criador dele estava na Gávea e era quem entregaria a premiação, então deixei Uncle Tom ter seu dia de glória. Na próxima, irei endurecer para cima dele”, ameaça, relinchando, o tordilho.

Uncle Tom é um filho de First American e Just Lucky (Spend A Buck), criado pelo Haras Santa Rita da Serra, cujo proprietário é Afonso Burlamaqui, atual presidente da ABCPCC.

Enfim amigos, deixa eu ir nessa, pois hoje é dia dos namorados e apesar do temporal que cai na cidade do Rio de Janeiro, eu quero beijar muito logo mais. Até a próxima semana, fui!

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Senhor Temido esmaga adversários na Taça de Cristal

Leitores fieis, escrevo o blog desta semana sentindo o frio gostoso (e às vezes insuportável) de Porto Alegre. Como estou por aqui, aproveitei para visitar o potro Senhor Temido e conversar com o mesmo sobre a excelente corrida que fez na quinta-feira passada, quando venceu a Taça de Cristal (L.-1609mA), versão potros, no que fui muito educadamente atendida pelo bonito castanho.

Dentro da cocheira, curtindo um chimarrão (me ofereceu um pouco, mas definitivamente não é a minha praia), o potro do Haras Gentil Carlesso me recebeu com um sorriso nos lábios.

“Como vai? Há tempos que eu queria conhece-la pessoalmente. Leio sempre a coluna CERCA MÓVEL, que considero ser o espaço mais democrático para os cavalos de corrida. Era um sonho poder participar da mesma e, de repente, ser o personagem da semana é uma grande emoção”, elogiou.

Agradeci as palavras para lá de simpáticas e quis saber de onde ele herdou tanta educação, pois é um potro de apenas 2 anos.

“Meu pai Spring Halo foi meio que ausente. Minha mãe Darter (Afleet)foi a responsável pela minha formação. Ela sempre me orientava e dizia ‘meu filho, antes de se tornar um campeão na raia, você tem de ser um campeão na vida, tratando bem as pessoas em volta’. Essas palavras ficaram gravadas na minha mente lá no Haras Campestre e sempre procuro utiliza-las no meu dia a dia.”

Agora que conhecia um pouco mais da sua vida pessoal, não tinha como escapar de falar da corrida da última quinta-feira, quando simplesmente Senhor Temido dividiu a raia de areia do Hipódromo de Cristal ao meio.

“Foi uma corrida e tanto. Altair Domingos, líder entre os jóqueis do Jockey Club de São Paulo, veio até Porto Alegre para me conduzir, demonstrando que confiava muito na conquista. Quando me encaminhei à raia, eu já sentia que a vitória seria minha.

Ao abrir os portões dos boxes, larguei em 2º e observei Fever Again ir para ponta. Ele tentava abrir vantagem e dizia ‘vou pontear boa parte da prova, não vou deixar as coisas serem fáceis para ti guri’, tentou me provocar. Sendo que eu não permitia que ele se afastasse muito. Não falava nada, mas fiquei no máximo 1 ½ corpos de distância dele.

Estava atuando num ritmo muito bom, sem nem ser tocado pelo Domingos, sendo que antes de encerrar a reta oposta, meu jóquei me deu rédeas e logo eu passei por Fever Again. Não falava nada, pois estava me concentrando na corrida, mas não deixei de ouvir do mesmo adversário
‘vão te pegar na reta ou na curva, você verá’.

Se tinha ou não adversário para tentar me pegar na reta final eu não sei. A única coisa que lembro é que o Altair Domingos apenas me mostrou o chicote e eu tratei de acelerar. O mais interessante nisso tudo é que não senti o chicote uma única vez, muito pelo contrário. Domingos me conduzia com tanta confiança, que a mesma passou para mim. Galopava sem esforço e cada vez queria correr mais.

Escutava os meus concorrentes meio que falando
‘perae guri, para que tanta pressa!’, e o som das vozes deles foi ficando cada vez mais distante. Quando cruzei o disco e voltei para o padoque, foi quando me dei conta que havia praticamente dividido a raia do Cristal, mas sinceridade, não sentia que estava dando um vareio tão grande”, fala Senhor Temido, que venceu a corrida por 25 ½ corpos, no tempo de 1’37” cravados.

Quis saber sobre a festa após a vitória, na cocheira do treinador Trajano Teixeira.

“Não poderia ser melhor. Fui muito parabenizado por todos os meus amigos de cocheira e andei ouvindo uns boatos que devo viajar brevemente para o Sudeste, sendo que ainda estava para decidir se Rio de Janeiro ou São Paulo será a minha nova casa, por enquanto, vou curtindo o friozinho do Rio Grande do Sul”, dar uma grande relinchada, ou seja,uma gargalhada de felicidade.

Quando dei por encerrada nossa entrevista, Senhor Temido me surpreendeu querendo deixar um recado.

“Não querendo ser intrometido, mas queria agradecer, utilizando o CERCA MÓVEL, à amiga Faby Mattos, que torceu muito por mim e quando eu voltava para o padoque, após o páreo, ela falou comigo, me parabenizou, disse que eu tinha dado um show e que logo eu seria o personagem desse blog, na hora não levei muito a sério, mas a sua presença aqui apenas comprova que ela tinha razão. Então Faby, um beijo enorme para ti guria!”, encerra.

Adorei ter conhecido um pouco mais sobre Senhor Temido e espero que os leitores também tenham se divertido. Logo mais estarei no Hipódromo do Cristal para acompanhar o dia da Imprensa. Sei que receberei uma homenagem num dos páreos da programação e aproveito para agradecer a toda diretoria comandada por Delclides Gudolle.

9.000 acessos

E chegamos aos mais de 9.000 acessos! Ou seja, tem sim leitores que curtem entender o que os cavalos falam. Não era loucura da minha cabeça transmitir a essas pessoas um pouco do que os nossos corredores pensam e sentem. Por isso, obrigada a cada um dos cavalos e éguas que passaram por aqui, atraindo a atenção dos leitores.

Aproveito para falar um pouco sobre a coluna que sairia toda semana no Jornal Brasil Turfe. Queria poder ter continuado, mas infelizmente não pude. Agradeço ao Roberto Micka pelo espaço oferecido e desejo muito sucesso ao semanal do mesmo, mas, por enquanto, o CERCA MÓVEL continua apenas no campo virtual.

Conto com vocês na próxima semana leitores e olha que muita coisa está para acontecer: Grupo 1 na Gávea, Grupo 2 em São Paulo, Listed Race na milha e meia carioca, enfim, o próximo personagem da semana será uma incógnita desde já. Portanto, até lá!