Fui prontamente atendida pelo filho de Silent Name e Xiririca da Serra (Know Heights), criado por Gianni Franco Samaja e pensionista de Ivan Jeronimo.
CERCA MOVEL: Um prazer falar com você Jaspion Silent. Como foi voltar a competir?
Jaspion Silent vencendo na Gávea (foto Sylvio Rondinelli) |
CM: Agradeço suas palavras, mas saiba que foi maravilhoso poder ver a sua disposição de competir no último sábado, abrindo a reunião carioca. Vamos relembrar tal momento?
JS: Com muito prazer voltei a competir. Tenho muito a agradecer a toda equipe do Ivan Jeronimo pela paciência em me darem o tempo necessário para voltar a correr. Mesmo tendo no passado um retrospecto bem positivo, sábado foi tudo novo para mim. Estava estreando no Hipódromo da Gávea, voltei a ter uma joqueta no dorso, dessa vez a aprendiz Victoria Mota, e me senti muito bem durante todo o percurso dos 2.000 metros, pista de grama. Estava sentindo muita falta dessa adrenalina das corridas.
CM: A vitória foi muito fácil, inclusive irei deixar o link da corrida logo aqui abaixo para os leitores poderem apreciar a corrida, mas conte com detalhes o que sentiu?
JS: Viajei bem e no dia da corrida tomei meu café reforçado, com muita alfafa e algumas cenourinhas. Posso ser velho, mas tenho apetite! Galopei tranquilo no cânter. Ainda tinha pouca gente no prado carioca, mas achei legal as pessoas chegando próximo à cerca para tentar me ver de mais perto. Gostei do estado da raia. Caminhei até o partidor, entrei na hora que me foi pedido sem nenhum estresse. Ao ser dada a largada, Handler saiu rápido pela linha 1 para assumir o train de corrida. Por fora, fui devagar ocupar o 2º lugar. Victoria Mota me deixou galopar tranquilo e quando vi, antes de iniciar a grande curva, já estava emparelhado com Handler. Achei até que poderia cansar, pois não disputava há mais de 3 anos, na verdade há 41 meses, e estava pensando nisso quando o 'garoto' Handler tentou me provocar. Ele disse: 'E ai velhinho! Tomou a vitamina hoje?'. Achei um abuso aquilo e respondi: 'Veja a vitamina embaixo do meu rabo', e disparei. Entrei na reta na frente e sai tirando. As patas queriam correr, cada vez mais. Voltei a me sentir um potro e quando cruzei o disco que percebi que havia vencido por 9 1/4 corpos em 2'01"43. Foi indescritível a sensação!
CM: E o garoto Handler? Viu bem seu rabo?
JS: Você gosta de provocar heim! (relinchou) Ele tem 4 anos e chegou em 5º, distante 15 corpos de mim, mas quando voltou da raia e me viu, deu os parabéns e disse que havia sido uma honra ter tido a chance de competir ao meu lado. Se desculpou e saiu. Achei digno da parte dele reconhecer que não precisava provocar o velhinho aqui.
CM: Muita gente que nos lê pode não saber quem é você. Então vamos relembrar as suas conquistas, em especial o GP São Paulo 2014?
JS: A minha campanha consta de quatro vitórias, sendo duas graduadas: GP São Paulo (G1-2400mG) e GP 14 de Março (G3-2400mG), além de seis colocações em 11 apresentações. Ou seja, só fiquei fora do placar no GP Ipiranga 2014. Ganhei o GP São Paulo daquele ano, que ao invés de ser realizado em maio, ocorreu no final de abril. Obtive importantes colocações, sendo as principais ter chegado em 2º no Derby Paulista (G1-2400mG) para o tríplice coroado Fixador. Foi uma história muito bonita nas pistas que eu pensei que já havia chegado ao fim.
CM: Quando você soube que estava pronto para voltar, visto que parou de competir logo após a vitória do GP São Paulo 2014?
JS: Neste ano de 2017 que foi oficializado a minha volta às competições. Após vencer o GP São Paulo eu senti a mão direita e fui levado para o haras para encerrar campanha. Pensei que eu chegaria no haras e teria várias éguas à disposição. Sonho total! Até tinha éguas, mas nenhuma Puro Sangue Inglês. Fiquei cabisbaixo durante uns 29 meses, só comendo e passeando nos piquetes. Certo dia estava num piquete e de repente ouvi um barulho forte, parecendo um enxame de abelhas. Dei um galope rápido para o outro lado e só depois percebi que era um drone que estava sobrevoando. Sendo que o mais interessante é que percebi que não havia sentido dor na mão direita, apesar do meu esforço rápido. Então passei a comer só o suficiente nas minhas refeições e a trotar sozinho, dando alguns galopes mais rápidos, para manter a forma. Dois funcionários do haras viram que eu tava doido para correr e um deles cismou de subir em meu dorso. Demos um galope bacana e ele não teve dúvida: chamou meu treinador ao haras. Três dias depois lá estava olhando para mim Olavo e Ivan Jeronimo, pai e filho que muito me conheciam. A saudade era grande de ambas as partes e ali percebi que estava pronto para voltar.
Jaspion Silent após a vitória com V. Mota e I. Jeronimo (foto Sylvio Rondinelli) |
CM: Ok, mas você fez tudo isso em 29 meses e só veio voltar a competir agora. Por quê precisou de mais 12 meses para enfim reaparecer no Programa Oficial?
JS: Cautela da equipe. Se estava parado e já tinha 6 anos, não precisava voltar meia bomba. Então fiz todos os exames ainda no haras. Dr. Alceu Athaide acompanhou a tudo. Perceberam que minha mão não doía mais como antes. Fui levado para São Paulo. Galopei devagar na raia paulista, sem muito esforço, apenas para entrar em forma. Só duas semanas antes de realmente estrear na Gávea que fiz dois trabalhos fortes para garantir a minha ida para o Rio de Janeiro. Acho que a cautela da equipe foi fundamental para que eu estreasse e retornasse às disputas sem maiores problemas.
CM: Agora você reapareceu, estreou na Gávea e venceu. Qual será o próximo passo?
JS: Não vou mentir dizendo que não quero participar das provas graduadas. É lógico que quero, até porque nos meus 3 anos, quando ainda era potro, obtive uma das vitórias mais importantes que todo cavalo de corrida nacional deseja, que é o GP São Paulo. Porém sei que tenho 7 anos. Perdi 4 anos de campanha e se estou tendo novamente a chance de voltar a competir, quero aproveitar com calma. Talvez eu deva competir uma ou duas vezes ainda na turma. Garantir mais algumas bolsas de prêmios lá do Rio de Janeiro, para ai sim pensar em Grande Prêmio. Por enquanto está sendo muito bom receber o carinho dos novos colegas de cocheira. Sim, porque a maior parte dos cavalos da minha época não estão mais por aqui. E os novos cavalos também não me conheciam. Está sendo um recomeço, sendo que aos 7 anos.
CM: Muito sucesso para você JASPION SILENT e espero logo poder revê-lo na raia, seja disputando qualquer páreo?
JS: Obrigado Karol pela oportunidade, espero estar batendo papo com você outras vezes. Quero aproveitar este espaço não apenas para agradecer a toda equipe que trabalhou pelo meu retorno, mas também aos turfistas que demonstraram muito carinho por esta minha volta, em especial ao Sergio Lessa, que fez um bonito depoimento a meu favor no espaço do leitor do site RAIA LEVE. São estes gestos que animam um cavalo velho como eu a sentir-se com alma de potro ao ponto de conseguir dar grandes exibições.
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